Entrevista a Alexandre Bettencourt

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Domingo, 7 de Fevereiro de 2010
Retirado do blog do PTOldMan, aqui!

Recordam-se daquela surpresa que eu disse que viria brevemente? Bem, o momento chegou. Consegui contactar Alexandre Bettencourt, o tradutor e adaptador da primeira série do Pokémon em Portugal! Ele trabalha para a empresa “Cristbet” (http://www.cristbet.pt/) e tem um blog (http://wrestlingtraduzido.blogspot.com/) . Ele, para meu agrado, disponibilizou-se para uma entrevista! Aqui vai a entrevista:

1ª Qual foi o teu percurso até chegares a tradutor?
Basicamente, foi um percurso de experiência. A minha mãe, dona da empresa para a qual trabalho, sempre sentiu que eu tinha bastante jeito para línguas, e resolveu dar-me uma série de desenhos animados para crianças para traduzir, de nome “Rimba’s Island”. Isto foi em 1996, e desde então que se tem vindo a dar o amadurecimento e a minha profissionalização nesta área.

2ª Como te surgiu a oportunidade de participares na tradução portuguesa do Pokémon?
Na altura, era um trabalho como outro qualquer. Acho que ninguém sabia do sucesso e do fenómeno que viria a ser. O cliente entregou-nos a série, e claro que aceitámos.

3ª Por que é que deixaste a tradução da série?
Infelizmente, estas coisas cabem mais aos clientes, do que propriamente aos fornecedores! A série simplesmente deixou de vir 🙂

4ª Quais os aspectos do público português que tu tinhas em consideração ao traduzir a série?
Acima de tudo, a idade. É sempre importante ter em conta a faixa etária principal para a qual um programa, ou filme, é vocacionado. Claramente, era uma série orientada para crianças e jovens adolescentes, e então desde o início que tivemos em conta o tipo de abordagem a ter.

5ª Que aspectos particulares do Pokémon é que te marcaram?
A WWE tem o Universo WWE, os Pokémon seguramente têm o Universo Pokémon! 🙂 Acho que esse tipo de variedade de personagens, grandes e pequenas, e todas elas uma espécie de “super-heróis”, em conjunção com a interacção do mundo humano, é sempre um tipo de história giro, que remonta ao género de fantasia. E mais do que um personagem em particular, acho que foi esse o apelo que vim a sentir pelos Pokémon.

6ª Como é que fazias para saber os nomes correctos dos Pokémons, das cidades, dos ataques, etc?
Felizmente, tínhamos guião! A Internet já existia na altura, mas a Wikipédia ainda devia estar a anos-luz de ser inventada lol Nesse aspecto, nunca foi difícil entrar no contexto da série; era só ler bem o que estava no guião 🙂

7ª Havia algum personagem inglês mais difícil de traduzir?
Penso que não, o grau de dificuldade (ou facilidade?) era transversal.

8ª Durante o processo de tradução e adaptação tinhas contacto com os dobradores?
Nunca, só mesmo com o estúdio. Volta e meia lá recebíamos um outro pedido mais específico, de forma a facilitar a leitura do guião traduzido, mas era sempre da parte do estúdio. Penso que estavam contentes com o nosso trabalho, porque esse tipo de pedidos não eram muito frequentes 🙂

9ª Quais as personagens que deram mais gozo de ver e, posteriormente, escrever falas?
Assim de repente, lembro-me do Meowth! Dava-me sempre muito gozo traduzir essa personagem, porque era uma personagem um pouco desvairada! E quando esse tipo de personagens aparece, é sempre divertido tentarmos encarná-las de forma a poder veicular o que elas dizem, mas com outra atitude, e outro palavreado que não fuja à mensagem.

10ª Houve algum momento que tu achaste particularmente emocionante?
Já lá vai muito tempo, há largos anos que não pego num Pokémon para traduzir, de forma que a memória já falha um bocadinho, como é de esperar. Mas penso que, de regra geral, quase todos os momentos decisivos com o Ash, e a sua interacção com o Pikachu, eram de alguma forma marcantes, dado que existia aquela luta muito humana de tentar alcançar, e superar, os objectivos, enquanto fazia frente aos inimigos. É sempre a tentativa de alcançar um sonho com a ajuda dos amigos, não obstante as adversidades, e penso que há algo de muito humano, marcante e de certa forma emocionante nisso.

11ª Como foi traduzir os Team Rocket, que muitas vezes falavam por rimas e por trocadilhos? E em relação ao lema deles?
Era divertido, mas também era um desafio. A missão, como tradutor, é nunca quebrar a mensagem, ou tirar a piada a algo que é inerentemente engraçado. Por isso, independentemente da série, sempre que aparece uma rima, há um cuidado redobrado para tentar acompanhar o espírito da mensagem.

Já o lema, foi engraçado, porque como te disse, trabalho para a minha mãe, e sendo ela autora de livros para crianças, sempre teve muito jeito para rimas, de modo que o mérito da tradução do lema pertence-lhe, única e exclusivamente 🙂

12ª Por que é que algumas músicas dentro dos próprios episódios não foram traduzidas?
Como já referi, depois de tantos anos, a memória já falha um bocadinho, mas terá sido por certo opção ou do cliente, ou da SIC, na qual passava o Pokémon. Nós traduzíamos sempre o que o cliente/SIC nos pedia.

13ª Se te surgisse a oportunidade de trabalhar novamente no Pokémon, aceitarias?
Claro que sim, é uma série fantástica com todo um universo muito próprio, muito emocionante, cheio de personagens muito coloridas. E dá sempre gozo ter o privilégio de trabalhar com uma série assim 🙂

Entrevista conseguida pelo PTOldMan!

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2 thoughts on “Entrevista a Alexandre Bettencourt

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